ODONTOLOGIA DESPORTIVA

08-02-2011 01:11

 

A prática de esportes e os cuidados com a boca.

 

A prática esportiva tanto para atletas amadores como profissionais de alta performance exige dentro da equipe médica a presença de um cirurgião-dentista capacitado em odontologia desportiva para acompanhá-lo no seu condicionamento aeróbico e com isso melhorar o seu rendimento físico bem como protegê-lo de acidentes na região oral, facial e craniana.

Existem vários exemplos de jogadores de futebol que foram vítimas de traumatismos na região bucal e que se estivessem utilizando protetores bucais teriam evitado perdas dentárias ou mesmo fraturas dos ossos da face, por exemplo o jogador Ronaldo o Fenômeno, quando tinha 15 anos quase foi dispensado por que apresentava baixo desempenho esportivo devido a problemas de infecção nos canais de alguns dentes, falha no posicionamento dos dentes anteriores e respiração bucal o que comprometia seu desempenho nos jogos.

Outro exemplo recente é do jogador prodígio, Neimar do Santos Futebol Clube. Durante um jogo sofreu uma cotovelada na região da boca causando ferimentos na gengiva pelo aparelho ortodôntico que se deslocou instalado nos seus dentes, o que provocou graves ferimentos na sua boca em função disto, obrigando o jogador a utilizar um protetor bucal nos jogos seguintes. O jogador Magrão, na época jogando pelo Palmeiras, recebeu uma cotovelada em sua boca durante um jogo, fazendo com que vários dentes caíssem no gramado de uma única vez. A utilização de protetores bucais intra-orais confeccionados sob medida para boca do atleta consegue evitar satisfatoriamente estes tipos de seqüelas durante a prática esportiva.

O projeto de lei número 5.391 de 2005, do deputado estadual Gilmar Machado /PT-(MG), sugere sobre as medidas a serem adotadas no traumatismo dentário ocasionado pela prática esportiva e decreta no artigo 1 que “é garantido aos atletas profissionais ou não, além da seguridade física, mental e sensorial, cuidados especiais com a saúde bucal” e ainda, reforça no artigo 3 que “entidades esportivas são responsáveis pela educação, prevenção e cuidados iniciais frente aos traumatismos dentários em seus atletas qualquer que seja o vínculo“.

 O aumento do interesse pela prática de esporte e academias no Brasil e a importância da prática esportiva na vida das crianças fazem com que a Odontologia Desportiva se torne cada vez mais necessária. Com o avanço das pesquisas neste setor e a necessidade aparente do uso do protetor bucal nas práticas esportivas, em breve todos os atletas principalmente os profissionais deverão utilizar um protetor bucal específico que proteja os seus dentes e gengivas sem dificultar sua respiração.

 A academia americana de odontologia esportiva, afirma que o uso deste aparelho diminui em até 80% os riscos de trauma dental. Cada atleta envolvido em esporte de contato tem 10% de chance de sofrer um acidente dental ou oral. Dados divulgados pelo National Youth Sports Foundation revelaram que cerca de 5 milhôes de dentes são perdidos por ano em atividades esportivas.   A American Dental Association –ADA- constatou que pelo menos 200 mil traumas são evitados devido ao uso adequado de protetores bucais. Com esses dispositivos, os atletas ficam protegidos de fraturas e lesões. “ O protetor não vai apenas proteger o atleta dos traumas, mas, também, vai auxiliar a parte de memória de postura e de equilibrio.

 Às vezes, as pessoas esquecem de que além de um impacto poder traumatizar dentes, língua, gengiva, mucosa interna da boca existem os problemas da dupla Articulação Têmporo-Mandibular-ATM- a qual é responsável pela articulação da mandíbula agindo bilateralmente, cujo  encaixe é no osso temporal do crânio. O uso do protetor bucal protege essas regiões nobres evitando que a onda traumática do choque se propague provocando dor a distância. Há situções que o atleta acaba desmaiando e até mesmo tendo convulsões. Então, o protetor além de proteger os dentes e prevenir problemas de ATM, também protege a região nobre do Sistema Nervoso Central, uma região bem próxima da coluna cervical que, dependendo do impacto que o atleta recebe, pode por exemplo, comprometer seriamente essa região”.

 

TRAUMA RESULTADO DE UMA COTOVELADA

Há três tipos de protetores bucais, o primeiro é comprado em estoque, sem modelagem no paciente. O segundo é só aquecer e morder. Este tipo de protetor bucal tem sido muito usado recentemente. Estes dois tipos não deveriam ser utilizados pois não se adaptam  perfeitamente a boca, podendo causar ferimentos, pois se deslocam com muita facilidade em situações de impacto.

E o terceiro tipo é moldado individualmente ao paciente, é feito em EVA  (etileno acetato de vinila), o qual tem sido melhor aceito pelo atleta e também recomendado  por várias instituições odontológicas e esportivas ao redor do mundo, como a American Dental Association, British Dental Association, a Rugby Football Union e a English Hockey Association.

Vale ressaltar que desde 1962 a US High School Football League e a US National Collegiate Athletic Association obrigam todos seus atletas a utilizarem protetores bucais nas suas competições sendo atualmente de uso obrigatório a todos os alunos das escolas americanas durante a prática de educação física.

A sua durablidade depende muito de como é utilizado e da quantidade de impacto recebido, sendo que funciona como um verdadeiro air-bag dental, protegendo dentes, gengivas, mucosas, lingua e sistema nervoso central.

 

Em alguns casos o impacto das forças recebidas por exemplo em uma cotovelada ou uma queda ao solo pode causar fratura da mandíbula, fratura das articulações têmporo-mandibulares bilateralmente ou mesmo lesões à distância como osso frontal, zigomático, nasais e da base do crânio causando concussão cerebral. Os protetores bucais agem como absorvedores de choques, dissipando a força concentrada recebida para uma área maior reduzindo seu efeito nocivo aos tecidos moles e duros oro-faciais.

FRATURA MAXILAR, DENTES E LACERAÇÕES EM PRÁTICA ESPORTIVA SEM PROTETOR BUCAL

Antes de se confeccionar um protetor bucal deve-se analisar a saúde bucal do esportista, como por exemplo a presença de cáries, gengivites, dentes comprometidos por doença periodontal (com mobilidade), próteses mal adaptadas. Uma vez feita esta análise prévia realizamos moldagens dos arcos dentários, monta-se os modelos em um articulador para analise da oclusão dentária (mordida), então o protetor é confeccionado em um aparelho de prensagem com sistema à vácuo, depois de pronto são realizados ajustes na própria boca do paciente para alcançar uma máxima adaptação e modelagem aos dentes.
A falta destes conhecimentos científicos, de hábitos culturais e de cirurgiões-dentistas qualificados para confeccionar estes aparelhos, são os principais motivos da grande casuística de acidentes principalmente dentro dos campos de futebol.

REFERÊNCIAS

Bank J, McCrory PR. Mouthguard Use in Australian Football. Journal of Science and Medicine in Sport 1999;2(1);20-29